Com faixas e cartazes, manifestantes pediam por justiça e paz. Jefferson Guilherme da Costa Santos, de 20 anos, morreu após ser baleado por militares, na porta de casa, no bairro Veneza.
Parentes e amigos de Jefferson Guilherme da Costa Santos, que tinha 20 anos, morto em ação da Polícia Militar (PM) em julho passado, fazem uma manifestação na manhã desta terça-feira (3) às margens da BR-040, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
De acordo com a mãe adotiva do rapaz, Nelzi Rodrigues dos Santos, de 49, o filho foi morto a tiros durante abordagem policial no dia 28 de julho. Ele estava na porta de casa, no bairro Veneza.
A contadora que criou Jefferson desde que ele tinha 1 ano de idade, após a morte de sua mãe biológica, disse ao G1 que o filho era inocente e foi morto "na base da covardia".
"Ele chegava de madrugada do trabalho, mas, mesmo assim, levantava cedo para buscar o pão na padaria. Montava a mesa. Naquele dia, ele fez tudo direitinho e saiu, atravessou a rua para chamar o amigo para irem cortar o cabelo. No caminho, foi morto pela polícia. Assim, de graça", contou.
'Não acreditem em conto de fardas', diz faixa em protesto — Foto: Redes sociais
Nelzi já tinha saído de casa para ir para o trabalho, quando a filha ligou e contou que havia escutado barulho de tiros vindos da rua e que o irmão estava na casa do vizinho. Ela contou que a jovem tentou abrir o portão para ver o que havia acontecido, mas foi impedida pelos militares.
"Ela me ligou dizendo da confusão na rua, que tinha escutado barulho de tiros e a voz do Jefferson. Mas que, quando tentou abrir o portão, militares seguraram ela e não deixaram ela sair de casa, pediram a identidade do meu filho. Ela passou e eles não devolveram, não falaram nada, ela não sabia que ele estava baleado", contou a mãe da vítima.
Depois de um tempo, a irmã da vítima descobriu que dois homens feridos foram levados para o Hospital São Judas Tadeu, também em Ribeirão das Neves, e que um deles era o Jefferson. Segundo a Nelzi, ela saiu do trabalho e foi para o hospital para ter notícias do filho.
"Cheguei e vi dois corpos dentro de um saco preto passando por mim, ninguém me falava nada. Depois de horas, fui informada que um deles era meu filho, eu reconheci o corpo dele no necrotério, estava com o corpo todo machucado, cheio de hematomas e nariz quebrado, não acreditei que fosse meu menino", disse a contadora.
A família contou que a Polícia Militar disse que o jovem tinha mandado de prisão em aberto contra ele e que, no dia 25 de junho, ele estaria no estado Espírito Santo, quando trocou tiros com a polícia de lá. A mãe dele contesta.
"Fomos para o Espírito Santo quando meus filhos eram pequenos. Depois não voltamos mais. No dia 25 de junho, ele estava com a gente na missa de sétimo dia da morte do meu marido, pai dele, estávamos dentro da igreja. Como ele estaria trocando tiro com a polícia em outro estado?", questionou Nelzi.
A família disse que o jovem era trabalhador e muito religioso, fazia parte de um grupo de oração da igreja do bairro, onde morava há mais de 10 anos.
"Ele era muito humilde, todo mundo conhecia ele aqui no bairro, nunca tive problemas com ele nem com meus outros três filhos. Estou correndo atrás para limpar o nome do meu filho, ele era jovem trabalhador, cheio de vida, não tinha passagem pela polícia, não tinha envolvimento, foi executado pela polícia", contou a mãe.
A Polícia Civil informou que, assim que foi acionada, direcionou a equipe de perícia criminal ao local para realizar os primeiros levantamentos e coletar vestígios para a apresentação do laudo pericial, que deverá ser concluído em até 30 dias.
O que diz a Polícia Militar
Viaturas da Polícia Militar na rua onde Jefferson foi morto, no bairro Veneza, em Ribeirão das Neves. — Foto: Redes Sociais
Em nota a Polícia Militar informou ao G1 que após "monitoramento e confirmação de que um autor de atentado contra policiais militares no Estado do Espírito Santo e possuidor de mandado de prisão em aberto, estaria homiziado na cidade de Ribeirão das Neves, foi realizada diligência no endereço desse e, no local, o referido autor, juntamente com outro homem, portavam armas de fogo e resistiram a abordagem, disparando contra os policiais militares".
A nota da PM ainda disse que "para revidar a injusta agressão e resguardar suas vidas, os militares efetuaram disparos, atingindo os suspeitos. Após cessar a agressão contra os policiais, os autores foram socorridos, sendo suas armas de fogo e algumas cápsulas deflagradas apreendidas".
Segundo a polícia, no local, ainda foram localizadas drogas, munições e outros objetos ilícitos, além de ser realizada a prisão de mais uma integrante da quadrilha.
A instituição informou ainda que a Corregedoria acompanha os fatos e "todas as medidas de polícia judiciária militar cabíveis foram adotadas".
O G1 ainda questionou a Polícia Militar sobre a data da possível troca de tiros no estado do Espírito Santo e detalhes das passagens que a vítima tinha, mas até o fechamento desta reportagem, não obteve retorno.
Nesta terça, viaturas da PM acompanhavam a manifestação e o G1 perguntou à corporação se ela queria de pronunciar.