“Arepetição é a base de toda pedagogia”, os professores gostam de dizer, divagando por função. Se a Igreja é nossa mãe – ela pode até ter seus defeitos – então sua educação deve envolver também a repetição. Será que o próprio Deus não faz isso? Toda a história santa consiste em uma sucessão de pactos entre o Criador e seu povo, que nunca deixa de trair seu protetor e depois implorar-lhe que permaneça favorável a ele.
A nova aliança, selada na cruz pelo sangue de Jesus e feita eterna pela ressurreição do Filho, muda radicalmente a situação, mas não a natureza humana. É verdade que já somos ressuscitados por nosso batismo e, portanto, participantes da vida divina. A aliança é agora definitiva, como Cristo nos lembra na Última Ceia. No entanto, permanecemos sujeitos à concupiscência, fruto de nossa liberdade como filhos de Deus.
Esta liberdade é o fundamento de nossa dignidade e nos dá a alegria de escolher a vida que Deus nos dá. Esta liberdade, também, que muitas vezes nos leva por caminhos que não são os de Deus. O período quaresmal que vem e vai a cada ano deve, portanto, ser entendido como uma ferramenta pedagógica que a Igreja nos proporciona. Através da oração, do jejum e da partilha, através da progressão litúrgica destes dias que levam à Páscoa, procuramos formar nossa liberdade.
Outra Quaresma? Sim, para tentar, mais uma vez, vigiar para não cair em tentação, como Jesus aconselhou seus apóstolos a fazer no Getsêmani. Vigiar, porque não sabemos o dia ou a hora em que Cristo nos chamará para Ele, ou voltar em glória para julgar todas as coisas.
Estes quarenta dias que estão diante de nós novamente este ano são uma oportunidade para converter um pouco mais, pois o passar do tempo muitas vezes nos faz desviar pouco a pouco, quase imperceptivelmente, do caminho que nos conduz a Deus. Como em um canal: se o porto é o paraíso, temos uma tendência infeliz de virar a bombordo ou a estibordo, arriscando as armadilhas. Penitência, jejum e partilha são como boias em nosso caminho para garantir que estamos rumando na direção certa: a santidade.