ODiabo é um mentiroso: ele tenta nos convencer de que podemos encontrar nossa felicidade fora de Deus e que podemos julgar perfeitamente o que é bom para nós. É uma armadilha tão antiga quanto o pecado original, que nos deixamos apanhar todos os dias! Sempre que preferimos o nosso capricho à vontade de Deus, sempre que confundimos liberdade com independência, sempre que nos apegamos aos nossos bens materiais em vez de confiar na Providência, comportamo-nos como o filho pródigo da parábola (Lc 15,11-32), que só tinha uma ideia em mente: livrar-se da autoridade paterna para ser livre para agir como quiser! Mas em termos de realização pessoal, ele logo se viu mais patético do que os porcos que criava, faminto, miserável e perdido.
Nós realmente acreditamos que Deus nos ama? Uma de duas coisas: ou Jesus falou a verdade, e Deus é um Pai que nos ama infinitamente e enviou seu Filho para que “a alegria esteja em nós e a nossa alegria seja completa (Jo 15, 11)” e neste caso, não temos nada a temer e tudo a esperar de um Pai tão amoroso e misericordioso; ou Deus realmente não nos ama, e então Jesus é um mentiroso, então não vale a pena segui-lo.
Você tem que ser consistente: ou acreditamos em Deus – o Deus de Jesus Cristo – ou não. Mas se acreditamos nele, vamos viver todas as consequências. Não podemos dizer que o Evangelho é verdadeiro “teoricamente” e não vivê-lo concretamente. Não podemos proclamar todos os domingos no Credo que acreditamos em Deus e nos comportamos como se essa Fé fosse estranha à nossa vida diária. Se cremos que Jesus falou a verdade, que ele é realmente o Filho de Deus e nosso Salvador; se cremos, com toda a Igreja, que a sua Palavra é verdadeira, sobretudo quando nos revela a infinita bondade do Pai, a sua inexaurível misericórdia e a sua ternura; então, por que hesitamos em entregar tudo a Deus? Por que temos medo de dar tudo a Ele?
Se não ousamos nos abandonar sem reservas, é porque, aqui novamente, nos deixamos cair na armadilha do Maligno. Este sorrateiro sussurra para nós – e nossa imaginação corre solta! – que Deus se aproveitará impiedosamente de nossa confiança para devastar nossa vida. Como se ele estivesse apenas esperando por um sinal nosso para nos deixar miseráveis! Mas é exatamente o oposto! “Todos os bens me foram dados desde o momento em que não os procurei mais”, afirmou São João da Cruz. Qualquer pessoa que já passou pela experiência de confiar totalmente na bondade de Deus lhe dirá a mesma coisa.
Apostar tudo em Deus não é uma fórmula mágica que lhe permitiria ganhar o que tanto sonha. Não se trata de fazer um investimento rentável nem de subscrever um seguro de vida: trata-se de sair da lógica do mundo para entrar na do Reino. Quando São João da Cruz fala de “todos os bens”, não está falando de glória e de riquezas, mas dos bens de que precisamos para ser verdadeiramente felizes.
Apostar tudo em Deus não nos isenta das adversidades! Por outro lado, confiar totalmente no amor do Senhor permite-nos receber dele tesouros de alegria, paz, força e confiança, tanto no sucesso como na adversidade. Em vez de levar o nosso fardo sozinhos, recebemos de Jesus um “jugo suave e um fardo leve” (Mt 11, 30). Jesus realmente o carrega conosco.
Como nos abandonar? Ao nos abandonar. Em outras palavras, pedindo ao Senhor essa graça. Pedindo-lhe com confiança, sem descanso e sem nos preocuparmos com as nossas dificuldades em acolhê-la e vivê-la. Sempre que somos tomados de preocupação ou quando somos tentados a levar nossa vida “por nós mesmos como adultos”, vamos repetir a Deus que queremos confiar somente nele. Não nos preocupemos, nem mesmo a de não poder nos entregar totalmente ao Senhor. Nossos corações estão divididos, infiéis? Não tenha medo. Deus é maior do que nosso coração.