Sara Vitória Marques, 18, é aluna do terceiro ano na Escola Estadual Santos Dumont, na região de Venda Nova, e também faz o cursinho de redação. Diante das aulas remotas desde o ano passado, ela contou que as adversidades quase a fizeram desistir de prestar o Enem em 2021. “Estou finalizando o ensino médio e foi muito complicado lidar com o virtual. Estudar de casa, sem acompanhamento do professor, me desmotivou muito. Eu achava que não ia alcançar a nota que preciso para entrar na faculdade e isso foi bem complicado”, alegou. A jovem quer passar em Medicina. “É o meu sonho desde menina, me tornar a médica da família”, disse.
Por conta da greve dos professores e da pandemia, a estudante lembrou que em 2020 só houve quatro dias de aula presencial. “Isso prejudicou bastante. Enquanto a rede particular mandava atividades, provas e aulas virtuais, na minha escola demorou muito para que isso acontecesse”, alegou. Rosângela Pimenta, que também é professora do Redação e Cia., citou a falta de apoio a esses estudantes. “Não teve nenhum incentivo (para o Enem) e muitos alunos perderam o interesse. A deficiência é muito grande, principalmente em relação ao desconhecimento de algumas estratégias, dificuldade ortográfica”, exemplificou.
Já Tayná Martins, 19, vai tentar o Enem pela segunda vez e pretende cursar Nutrição. Também aluna de escola pública, ela disse que precisou ser ainda mais esforçada neste ano para se preparar. “Na minha escola, o ensino voltado para a redação era muito escasso. E essa troca repentina do presencial para o online também teve grande impacto, não estava acostumada. Estou bastante ansiosa, mas estudando desde o início do ano. Em janeiro (última edição do exame), foi muito conturbado, não estava vacinada e fiquei preocupada por conta dessa questão da Covid-19”, pontuou.
Para a professora de Química do Colégio Nossa Senhora das Dores, Giovana Mayrink, a falta da troca de conhecimentos que existia dentro das salas de aula também prejudicaram a preparação nesse período. “A grande maioria dos alunos que vai tentar o Enem tive quase todo o segundo ano e a metade do terceiro essencialmente no regime remoto. Muitos vinham desabafar sobre a dificuldade até mesmo de acordar e ficar sentado na frente de um computador para assistir horas de atividades online. Essa pandemia exigiu uma autonomia e disciplina muito grande”, explicou.
Além disso, Mayrink disse que diversos alunos perderam familiares, amigos e pessoas queridas para a doença. “O Enem já é uma prova que exige demais, e esse período, por si, com a formação do ensino médio para ingressar em uma universidade, já gera preocupações que os alunos têm normalmente e geram uma ansiedade muito grande. Somado a isso, tivemos muitas perdas”, alegou. Estudante do colégio, Ana Júlia Botaro, 17, disse que tentou se preparar da melhor forma possível. “Eu sabia que quando retornasse não teria tempo de rever e estudar novamente matérias dadas no virtual. E quando o ensino presencial retornou, ficou mais fácil, porque o foco é maior que em casa”, disse.
Mesmo frustrada por conta das limitações trazidas pela pandemia, Ana Júlia contou que com o passar do tempo conseguiu lidar melhor com essas adversidades. “Saber que eu estaria perdendo experiências que só o terceiro ano tem me deixou um pouco abalada e decepcionada, principalmente porque eu tinha muita esperança em retornar já no início do ano. Depois percebi que isso não era mais tão importante e quando chegasse o momento, aproveitaria o máximo, principalmente com a proximidade do Enem”.