No momento em que as aulas presenciais começam a ser gradualmente retomadas nas escolas privadas de Belo Horizonte, muitos pais têm se deparado com um problema: como planejar o transporte dos filhos no sistema de “bolhas”? Especialmente quem trabalha presencialmente está tendo de encontrar soluções variadas para conseguir levar as crianças e os adolescentes nos dias e horários limitados.
O principal problema tem sido a falta de vans escolares em atividade neste momento. Como a demanda ainda está muito baixa e boa parte dos alunos precisa ir à escola em dias alternados, o trabalho dos motoristas de vans fica inviável economicamente.
A bancária Valéria Valentim, 38, já entrou em contato com três motoristas para tentar transporte para as duas filhas, de 3 e 7 anos, mas ainda não conseguiu. Como ela passa todo o dia fora de casa e com o único carro da família, coube ao marido, que está em home office, a tarefa de se desdobrar para levar as meninas para a escola com transporte por aplicativo.
“Na hora do almoço, ele tem que dar comida para as meninas e levá-las para a escola. Para conseguir buscá-las no horário determinado, ele teve que negociar com a empresa para fazer um intervalo e compensar o horário depois”, relata Valéria. “Tentei até trocar os horários das meninas na escola, mas não tinha vaga no turno da manhã”, conta.
Fabiana Nogueira, 42, conta já não saber mais o que fazer para encontrar uma van disponível para transportar a filha, de 9 anos, entre os bairros Fernão Dias, na região Nordeste, e Floresta, na Leste, onde fica a escola. Desde que as aulas presenciais voltaram, ela conta ter sido uma peleja lidar com a logística.
“O pai dela leva, e eu tenho que buscar. Eu trabalho como recepcionista no bairro Sion e pego um ônibus até a escola. Depois, nós duas vamos até o metrô, descemos na estação Minas Shopping, mas ainda pegamos mais um ônibus até minha casa. Tem que ser assim porque o transporte por aplicativo custa R$ 23 entre a escola e a casa”, descreve Fabiana, esperando que a situação fique mais fácil em agosto, com um esperado retorno das vans.
REVEZAMENTO É UMA OPÇÃO
Já a empresária Márcia Machado, 41, achou que a melhor solução para economizar tempo e dinheiro seria negociar com outra mãe para fazer um revezamento no transporte dos filhos.
“Antes da pandemia, já alternava com vizinhas de condomínio. Agora, com a mudança de escola, procurei por mães para fazer o mesmo. Fui no grupo de WhatsApp da escola e perguntei: ‘quem mora no Buritis?’. Uma vizinha de bairro respondeu, e começamos a experiência”, relata a empresária.
“Assim, a gente economiza tempo e dinheiro, além de melhorar o trânsito da cidade. Porque buscar menino em porta da escola é muito difícil. A gente favorece o trânsito e também o meio ambiente”, diz Marcia, que conseguiu encontrar a mãe de um colega da mesma idade e da mesma “bolha” que seu filho, Felipe, 7.
BAIXA PROCURA, ALTOS CUSTOS
Carlos Eduardo Campos, presidente do Sindicato dos Transportadores de Escolares da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Sintesc), afirma que não há viabilidade econômica para o trabalho neste momento. “A procura está quase insignificante. As aulas estão escalonadas, não tem aulas todos os dias da semana, e de fato é inviável para restabelecermos o serviço dessa forma”, afirma.
A motorista Lorena da Silva Barbosa conta que não sabe quando poderá voltar a transportar estudantes. “Me procuraram para levar uma criança a uma creche duas vezes por semana à tarde. Cobrei R$ 200, o pai achou um absurdo. Ele acabou optando por deixar o filho em casa”, relata Lorena, explicando que é preciso transportar mais crianças para reduzir o valor.
Ela acredita que a demanda só voltará realmente quando o retorno presencial for obrigatório. “Todo mundo reclamou das aulas remotas, mas todo mundo deu um jeito para deixar os filhos em casa. Um pai não vai gastar agora com escolar, com uniforme, para levar o filho uma vez por semana”, diz Lorena.