O efeito da vacinação sobre os indicadores da pandemia depende que os imunizantes sejam efetivamente aplicados — no caso do Rio Grande do Sul, que tem a maior fatia de pessoas no grupo prioritário em relação à população total, quase 68,6% das vacinas recebidas foram aplicadas. Minas, sexto Estado com maior proporção de pessoas no grupo de prioridades, é o quinto que menos utilizou as doses recebidas, e aplicou 51,6% delas. Estados com PIB consideravelmente menor do que o mineiro, como a Paraíba, também passaram à frente de Minas. Os paraibanos utilizaram 75,1% dos imunizantes que receberam, segundo o Ministério da Saúde.
O governo de Minas admite que a vacinação poderia ser mais ágil e afirma que alguns municípios demoram a buscar as doses, criam estoque de vacina ou não têm atualizado com rapidez o sistema de informação sobre a quantidade de doses que foram utilizadas.
Diferenças históricas
A proporção de pessoas nos grupos prioritários nos Estados mais abastados é estrutural e deve-se a fatores como a expectativa de vida, que tende a ser mais alta nesses locais, o que aumenta a participação dos idosos na população, por exemplo. A quantidade de pessoas com comorbidades também costuma ser mais elevada onde os serviços de saúde são mais consolidados, já que, em regiões onde os cidadãos têm menos acesso a atendimento, eles podem passar anos sem um diagnóstico preciso, pontua Brancher.
“Estados mais ricos têm mais capacidade de diagnosticar comorbidades, então é possível que Estados mais pobres tenham mais pessoas com comorbidades não diagnosticadas. Esse é o pior dos mundos, porque essas pessoas deveriam ser contabilizadas como grupo prioritário, mas não terão acesso à vacina como deveria”, detalha o pesquisador.
A ONG Impulso Gov, que analisa dados sobre saúde em todo o Brasil, fez um trabalho nacional para estimar a população prioritária em cada Estado e chegou à conclusão de que ela pode ser menor do que o Ministério da Saúde previa. Enquanto a pasta trabalha com 77 milhões de pessoas nesses grupos, a iniciativa calcula que sejam cerca de 73,7 milhões, pois eliminou as duplicidades de informação — uma pessoa pode ser idosa e profissional de saúde ou ser caminhoneira e ter comorbidades simultaneamente. Minas, sexto Estado com maior proporção de pessoas no grupo de prioridades, possui, em número absolutos, a segunda maior população com mais de 60 anos e o maior contingente de forças de segurança, atrás de São Paulo.