As curvas e linhas da lagoa inspiram a criação de uma das maiores jóias do modernismo brasileiro: o Conjunto Moderno da Pampulha, inaugurado em 1943. "Essa concepção do Niemeyer teve como âncora o cassino. Além dele, o programa arquitetônico era formado por um hotel, que não chegou a ser construído, a igreja São Francisco de Assis, a Casa do Baile e o Iate Clube", explicou a doutora em ambiente construído e patrimônio sustentável pela UFMG, Luciana Rocha Feres.
Do apogeu aos duros golpes
Barcos a vela, esportes náuticos, pesca e outras diversas atividades começam a tomar conta da lagoa, juntamente com o sucesso de seus novos monumentos. "As pessoas se apropriavam e faziam esse lazer, que é algo que gostaríamos muito que voltasse a acontecer", disse. Mas o apogeu durou pouco: o primeiro golpe veio em 1946, quando um decreto-lei do governo Dutra proibiu os jogos de azar no país.
"Logo que o conjunto foi inaugurado, o cassino passou a ser bastante frequentado, assim como o Iate e a Casa do Baile. Porém, três anos depois, houve a proibição do jogo e o local ficou fechado por alguns anos. Começa um período de certo declínio da região", acrescentou a especialista, que também fez parte da equipe responsável pela conquista do título do conjunto como Patrimônio Mundial Cultural pela Unesco há cinco anos – em todo o Brasil, apenas 13 complexos históricos possuem o selo, dado pela primeira vez a Ouro Preto, em 1980.
Considerada um escândalo pela Igreja Católica da época, com um cachorro desenhado por Cândido Portinari ao lado de São Francisco de Assis, a entidade se recusou a consagrar o templo. "Houve um conflito do poder eclesiático local porque a própria feição da igreja, as linhas arquitetônicas, foram consideradas muito arrojadas naquele momento. E só 17 anos depois, o espaço foi aceito. Nesse período, ficou em desuso e até pensaram em demolir", disse Feres.
Em 1954, a barragem da Pampulha ainda se rompeu e provocou pânico em toda a região. Em poucos minutos, o ribeirão Pampulha e o córrego do Onça se transformaram em um rio caudaloso que levava tudo que havia pela frente. "Houve o esvaziamento da represa e esse acidente, que não provocou mortes, gerou enchentes e muitos prejuízos. A questão foi resolvida rapidamente e anos depois o conjunto passou por um processo de valorização liderado pela própria comunidade", acrescentou.